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domingo, 24 de janeiro de 2016

Historiadores por Osmose ou pela investigação na Wikipédia (study case)

 Em Portugal chegou a alguns anos a esta parte uma peste viral, que se manifesta numa eufórica consciência de sabedoria histórica. Ser historiador pode atingir um qualquer letrado de outra área do conhecimento ou um letrado em coisa nenhuma! 

Já assisti à criação de alguns em menos de 6 meses... Normalmente esta peste vem acompanhada com uma febre de investigação da famosa Wikipédia ou pela aquisição do conhecimento por osmose. Ao que parece o vírus passou as fronteiras e já se espalhou por toda a comunidade dita Wiko-científica... foram feitos estudos que apontam uma cura para este mal. É verdade existe mesmo e está disponível nos bancos das faculdades mas a resistência é maior e mais eufórica quando a idade passa dos cinquenta, cuidado aos sintomas porque podem aparecer prematuramente pelos quarentas. Vocês sabem do que estou a falar!

Numa leitura dum "post" do jornal "O Diabo" deparei-me com um "study case"...
A descoberta do caminho marítimo para a Índia foi o ponto culminante dos Descobrimentos Portugueses e marcou o início de uma nova era na História universal. Mas o livro “Conquerors. How Portugal seized the Indian Ocean and forged the First Global Empire” apresenta os portugueses como uns terroristas sedentos de sangue.

A peste viral internacional volta a atacar Portugal e um capítulo dos mais gloriosos da nossa História: os Descobrimentos e a Expansão. Desta vez trata-se de um livro com o título pomposo de “Conquerors. How Portugal seized the Indian Ocean and forged the First Global Empire” (“Conquistadores. Como Portugal se apoderou do Oceano Índico e forjou o primeiro Império global”), recentemente editado pela Faber and Faber e assinado pelo britânico Roger Crowley.

O problema é que o anacronismo – esse “pecado mortal do historiador ”, como dizia Lucien Febvre – começa logo na capa. Para ilustrar uma obra cujo âmbito cronológico vai de 1415 (conquista de Ceuta) a 1515 (morte de Afonso de Albuquerque), a coroa real que encima o escudo tem cinco aros visíveis e barrete púrpura, símbolo que só começou a ser utilizado no reinado de D. João V, no século XVIII.

9780571290895Mas há mais… e pior: o escudo de Portugal está assente numa esfera armilar em campo azul, isto é, as armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, sancionadas por Carta de Lei de 13 de Março de 1816 assinada por D. João VI. Um mero erro de 300 anos! Nada mal para uma obra de história narrativa…este livro não é credível, não o comprem!

Lembrem-se que dos documentos também se faz história, claro que o tom é irónico, isto porque, os contaminados há muito tempo, e às vezes nem tanto assim, não necessitam de fazer investigação nas fontes primárias é tudo de memória!


Cunha Roberto